Por: Ravel Gimenes - ravelgimenes@gmail.com
Na sexta-feira
passada foi comemorada a data de nove de julho, um feriado estadual de extrema importância
para os paulistas, posto que no referido dia e mês, relembra-se a luta do Estado
pela independência. Este dia, se tornou feriado no estado de São Paulo
em 1997, por força da Lei 9.497, promulgada pelo então Governador Mário Covas. Entretanto,
muitos cidadãos paulistas desconhecem o que é comemorado nesse dia, apesar de
ser considerada a data magna de nosso Estado, ocasião em que se comemora a
Revolução Constitucionalista de 1932.
Para auxiliar
nosso estimado leitor e querida leitora, vamos aos fatos. Em 1930, um movimento
armado liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul
aplicou um Golpe de Estado – no qual despôs o então presidente Washington Luís,
e consequentemente impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes. Com isso,
o então candidato derrotado nas eleições Getúlio Vargas (que era gaúcho) assume
o governo com amplos poderes, destituindo o Congresso Federal, retirando os
poderes estaduais e extinguiu a política denominada na época de “Café com leite”
(alternância entre as indicações dos presidentes da república nos estados de
São Paulo e Minas Gerais, impedindo que o principal cargo do Poder Executivo
fosse ocupado por representantes de outros estados).
Vargas assume a
presidência com o discurso de criar uma nova Assembleia Constituinte, a fim de
acabar com o monopólio dos estados citados, dando abertura para eleições
democráticas e justas. Tal promessa não fora cumprida e Getúlio governou por
meio de diversos Decretos, que desconsideraram o disposto na Constituição,
causando um desagrado na população – especialmente do estado paulista, que
acreditava nas promessas de convocação da assembleia constituinte e das
eleições presidenciais.
A morte de
quatro jovens por tropas getulistas, no dia 23 de maio de 1932 durante um grande
ato político (apoiado por comerciantes, estudantes e profissionais liberais)
contra o Governo Getulista, provocou uma mudança radical no movimento. A
repercussão do caso foi de uma proporção tão grande, que organizaram um
movimento denominado MMDC (iniciais dos nomes dos quatro jovens: Mário Martins
de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antonio Camargo de
Andrade) – posteriormente faleceria o jovem Alvarenga também alvejado durante a
manifestação.
Primeiros Paulistas mortos na revolução: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo
O estopim para o levante armado começou em 9
de julho de 1932. O ressentimento contra o presidente indicava uma revolta
armada chamando a atenção para uma possível recessão do Estado de São Paulo do
Brasil. Tal argumento nunca foi comprovado, porém, o governo de Vargas utilizou
dessa especulação para ganhar apoio dos demais estados, deixando os líderes
paulistas frustrados, pois contavam com o apoio de outras unidades federativas
para agregarem massa ao levante, o que não ocorreu.
Dessa forma, as
tropas paulistas, incluindo-se o efetivo da então Força Pública, (atual Polícia
Militar) participou com cerca 10 mil combatentes, 4 aviões, 5 trens blindados e
diversos veículos, também blindados. Cerca de 100 mil soldados aliados do
governo federal partiram para o enfrentamento com os paulistas.
Getúlio Vargas
teve tempo de articular uma reação militar de modo a sufocar a revolução ainda
nos seus estágios iniciais, obrigando o estado de São Paulo a ter de improvisar
em pouco tempo um amplo sistema militar defensivo em suas fronteiras contra a
ofensiva de tropas de todos os estados brasileiros. A exceção foi a presença dos
representantes do Mato Grosso, que se tornou o único estado aliado dos
paulistas. Após quase três meses de intensos combates nos quatro cantos do
estado, o conflito foi encerrado em 2 de outubro de 1932, com a rendição do
Exército Constitucionalista.
Força Pública e voluntários aclamando o Governador Pedro de Toledo
Os paulistas
consideram a Revolução Constitucionalista o maior movimento cívico de sua
história. A lei 12430, de 20 de junho de 2011, inscreveu os nomes de Martins,
Miragaia, Dráusio e Camargo como heróis paulistas da Revolução
Constitucionalista de 1932, também presentes no Livro dos Heróis da Pátria. No
total, foram 87 dias de combates (de 9 de julho a 4 de outubro de 1932 - os
últimos dois dias após a rendição paulista). O saldo oficial foi de 934 mortos,
embora estimativas não oficiais reportaram até 2200 mortos, já que numerosas
cidades do interior do estado de São Paulo também sofreram danos devido aos
combates.
O objetivo Paulista
teoricamente foi alcançado, já que em 1934 ocorre a promulgação de uma nova
Constituição (em vigor até 1937), quando Vargas fechou o Congresso Nacional,
revogando a Constituição e permanecendo no poder até 1945, quando finalmente foi
deposto.
Em homenagem aos combatentes paulistas
mortos no conflito, foi construído na cidade de São Paulo, mais propriamente no
Parque do Ibirapuera, o Obelisco “Mausoléu aos Heróis de 32”. Este é o maior
monumento da capital, com 72 metros de altura, o qual abriga os restos mortais
de mais de 700 combatentes, incluindo os jovens Martins, Miragaia, Dráusio e
Camargo.
Moeda Própria:
Após o início do movimento
revolucionário, o governador aclamado de São Paulo Pedro de Toledo (1860-1935)
decretou a emissão de bônus do Tesouro do Estado para substituir a moeda
nacional que estava em escassez e certamente não seria enviada pelo Governo
Federal, gerando uma espécie de isolamento econômico, surgindo assim, o
dinheiro paulista. O estado precisou imprimir o seu próprio dinheiro, com cédulas
de 5, 10, 20, 50, 100 e 200 mil réis. Esse mesmo decreto estipulou que a
circulação deste dinheiro se daria somente durante o período da recessão. As
cédulas começaram a circular em 20 de julho e em menos de 10 dias já haviam relatos
de notas falsificadas na praça.
Dinheiro Paulista
Instruções de Guerra (em grafia da época):
“CAMARADA!
Tem sempre presente estas recomendações:
a
- Não empregues o teu fusil Mauzer senão até a distancia de 600 metros. Além
disso, é consumir munição sem resultado. b - O teu F. M. tem maxima efficacia
até 600 metros. Poderá ser empregado até 1.200 metros. Não ultrapasses esta
distancia, porque vaes dispender munição inutilmente.
c - Tuas granadas de mão, deves utilisal-as entre 30 e 40 metros, no maximo. As de fusil até 190 metros. Não as esperdices em distancias maiores.
d – Tuas M.P., ainda que possam atingir 4000 metros, não deves usal-as até esse limite. Seu rendimento será maximo até 2000 metros. Emprega-as com oportunidade, pois, como sabes, são, como todas as armas automaticas, grandes consumidoras de munição.
e - Atira sempre no que vires; não satisfaças o desejo do inimigo atirando a esmo. É justamente o que elle quer: obrigar-te a gastar munição.
f - Quando surgirem patrulhas inimigas, deixa que se aproximem, para abatel-as com segurança. Não as espantes com tiros prematuros. Domina os teus nervos.
g - Teus morteiros são excellente. Sua trajectoria curva permitte bater tropas que se abrigam atrás das alturas que te fazem face, Emprega-os até a distancia de 2000 metros, como limite superior.
h - Camarada: Tem confiança em ti; confia
nas tuas armas ; trata-as com cuidado ; economisa a tua munição e a causa que
defendes, com a bravura que já demonstraste, será victoriosa.”
Votuporanga e a Revolução:
Em 1976 é criado um monumento em homenagem aos soldados
constitucionalistas de 1932 que escolheram Votuporanga como morada, sendo eles:
Alfredo Rodrigues Simões - Anibal Martins - Aziz José Abdo
- Felício Gorayeb - Felipe Munhos - Hernani de Mattos Nabuco - Judith Freitas
S. Saltini - Leônicas Pereira de Almeida
- Luiz Saltini - Ofélia Catelli Jabur. Homenagem Póstuma: Narciso Pelegrini - Olívio
Araújo - Nelciades de Oliveira.
Posteriormente, em 2017 foram adicionados os nomes de:
Affonso Sardemberg Van Haute - Alberto Teixeira Soares - João Carlos Botelho de
Miranda.
Também existe uma lei da década de 1950 que isentava o IPTU para os combatentes da Revolução de 1932 e também aos praças da FEB – Força Expedicionária Brasileira.
Ótima História! Parabéns pelo relato conciso e bem claro! Muito obrigada. (Está aqui em Santos, na casa do filho de Hernani de Mattos Nabuco, um capacete usado durante a revolução, com um aprofundamento em uma de suas laterais, causado por um tiro.)
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