quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Tecnologia a serviço da Memória: TCC no IFSP Votuporanga une Inteligência Artificial e Cultura Maker para resgatar a história local

Pesquisa desenvolvida no curso de Pós-Graduação em Gestão de TI propõe o uso de impressão 3D e repositórios digitais para combater o esquecimento do patrimônio histórico de Votuporanga.

Na última terça-feira, dia 25 de novembro, o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) – Campus Votuporanga foi palco da apresentação de um projeto inovador que busca conectar o passado da cidade com as tecnologias do futuro. O pesquisador Ravel Gimenes apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado "Gestão de TI aplicada à Educação Patrimonial: Cultura Maker e Inteligência Artificial no Desenvolvimento de Dispositivos de Mediação da História de Votuporanga/SP"

A defesa pública ocorreu às 19h30, no Laboratório Maker, localizado ao lado da biblioteca do campus, no bairro Pozzobon. O trabalho foi orientado pelo Dr. Ricardo Cesar de Carvalho e coorientado pela Dra. Elaine Cristina Ferreira de Oliveira.

O Resgate da História através da Tecnologia

A motivação para o estudo parte de uma constatação preocupante: apesar de seus 88 anos de fundação, Votuporanga enfrenta desafios na preservação de suas memórias, com a deterioração de documentos e a perda de referências históricas.

Para combater esse cenário e tornar o ensino de história mais atrativo para as novas gerações, Ravel Gimenes propõe a utilização da Cultura Maker (o movimento "Faça Você Mesmo") e da Inteligência Artificial (IA) dentro das salas de aula. O objetivo principal é produzir dispositivos de mediação pedagógica que tornem o aprendizado sobre o município mais dinâmico e interativo.

Como funciona: Da fotografia antiga à impressão 3D

A metodologia aplicada no projeto é um exemplo prático de como a tecnologia pode servir às humanidades. O processo desenvolvido pelo pesquisador envolveu as seguintes etapas:

Recuperação de Imagens: Seleção de fotografias históricas e dados sobre locais importantes da cidade.

Modelagem com IA: Utilização do sistema de Inteligência Artificial Hitem3D para converter essas imagens antigas (2D) em modelos tridimensionais detalhados.

Materialização: Impressão dos protótipos em 3D utilizando filamento ABS, permitindo que os alunos possam "tocar" na história.

Entre os resultados de destaque, o projeto conseguiu reconstruir digitalmente e fisicamente a primeira igreja de Votuporanga (já demolida), além de criar maquetes do Mercado Municipal, do Palácio da Justiça e da Catedral Nossa Senhora Aparecida.

Mapeamento Digital Colaborativo

Além das maquetes físicas, o projeto desenvolveu um repositório digital utilizando o Google My Maps. Essa ferramenta permite catalogar pontos históricos da cidade, centralizando fotos, vídeos e textos informativos. A proposta é que esse mapa funcione de forma colaborativa, onde tanto professores quanto alunos possam inserir novas informações, democratizando o acesso ao conhecimento histórico local.

Impacto na Educação

O estudo conclui que a integração desses recursos tecnológicos — como a impressão 3D e a IA — com o ensino tradicional é plenamente viável e necessária. A proposta alinha-se aos quatro pilares da educação para o século XXI definidos pela UNESCO: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.

Ao transformar o aluno em um agente ativo, que ajuda a construir o conhecimento e a preservar a memória local, o projeto reafirma a frase do artista plástico Aluísio Magalhães, citada pelo autor na conclusão do trabalho: "A comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio".

Apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso 

Banca dos Professores e alunos visitantes

Visitantes observando as impressões 

Apresentação dos modelos impressos em ABS

Orientador: Professor Dr. Ricardo César de Carvalho, Aluno: Ravel Gimenes, Coorientadora: Professora Dra. Elaine Cristina Ferreira de Oliveira, Professor Dr. André Luis Gobbi Primo e Professora Dra. Janaina Andréa Cucato  



domingo, 16 de novembro de 2025

Linha do Tempo da Inteligência Artificial

Na era digital atual, a integração das tecnologias digitais, incluindo as avançadas ferramentas de Inteligência Artificial (IA), transformou profundamente a comunicação, o trabalho e as interações sociais, redefinindo também o ambiente educacional. Essa evolução destaca a importância de desenvolver habilidades e competências digitais, não apenas para utilizar essas tecnologias, mas também para entender e coexistir com elas. A IA, em particular, desafia conceitos tradicionais ao introduzir capacidades que vão além de respostas binárias, incluindo a geração de conteúdo criativo, que era considerada uma prerrogativa exclusivamente humana.

Dica: Ao clicar na imagem utilizar o zoom do celular para visualizar melhor cada etapa.

Vicari, Rosa; Brackmann, Christian; Mizusaki, Lucas ; Galafassi, Cristiano. Linha do tempo de Inteligência Artificial. Disponível em: http://www.ianaescola.com.br/.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Família Otsuki: do Japão para Votuporanga

​Assim como inúmeras famílias de imigrantes que saíram do aconchego de seus lares para tentar a sorte em terras longínquas, com a família Otsuki não foi diferente.
​Contextualizando o fato, enquanto o Japão estava saindo de uma fase que culminou em décadas de isolamento, o Brasil finalmente decretara o fim da escravidão e a mão de obra nas lavouras de café tornou-se, portanto, mais do que necessária. Com o "Tratado da Amizade, Comércio e Navegação", assinado no dia cinco de novembro de 1895, em Paris, o Brasil abriu as fronteiras para a imigração japonesa, possibilitando uma grande oportunidade de trabalho aos seus cidadãos.

Dessa maneira, no ano de 1928, o Sr. Misseo Otsuki, com 25 anos de idade, e a Sra. Kazuko Otsuki, então com 24 anos, saíam do porto de Kobe, na região de Osaka, com destino às terras brasileiras. Chegando ao país, o casal se estabeleceu primeiramente na região de Colina em uma das propriedades do Cel. Francisco Maximiano Junqueira. Eles vieram com o primogênito, com um ano de idade, mas infelizmente esse faleceu bem novo, e posteriormente, seguiram para a cidade de Jaborandi, localizada a 200 quilômetros de distância de Votuporanga. Ao chegarem ao país tropical, tal como todos os imigrantes, tiveram que superar várias dificuldades.

​No início de 1940, juntamente com outras famílias de agricultores orientais, resolveram adquirir terras, com as economias advindas do trabalho na fazenda. A escolha por Votuporanga pode ter um motivo curioso: o nome da cidade. Alguns relatos apontam que, nos primeiros anos da fundação do município votuporanguense, vários caminhoneiros e motoristas passavam por essas "bandas" e se encantavam com o nome diferenciado – o que auxiliou a difundir o local em terras longínquas no nosso Brasil.

​Chegando por aqui, os Otsuki e mais cinco famílias (Sawamura, Hassegawa, Matsumoto, Nagatoki e Kawamura) se estabeleceram próximo aonde se encontra hoje o Aeroporto Municipal de Votuporanga. A princípio, realizaram todas as atividades de infraestrutura, como a derrubada de árvores para a construção das residências, preparação do terreno para a futura lavoura e outras melhorias necessárias. Perto do córrego ali existente, ao fundo da propriedade, já existia uma pequena olaria para a fabricação de tijolos – essa mesma foi utilizada para a construção das primeiras casas.

Com a madeira advinda da derrubada das árvores, construíram os galpões para a estocagem da produção, salvaguarda das ferramentas e equipamentos utilizados na "lida da roça".

​Após as realizações das tarefas elencadas acima, iniciou-se o trabalho na lavoura. Assim, com a união e trabalho de toda a comunidade japonesa, o grupo se fortaleceu a tal ponto, que produzia praticamente todos os alimentos que consumiam, constituindo uma sociedade quase autônoma. Concomitantemente a plantação de arroz, milho, feijão, café e posteriormente algodão, Sr. Hidehito destaca os esforços em manter as tradições e costumes de seu povo: falar uns com os outros na língua japonesa dentro de casa e respeitar a hierarquia familiar. Nesse último caso, nosso entrevistado afirma que até hoje mantém esse hábito e não compra uma galinha sequer, sem antes consultar o irmão primogênito, o Sr. Izur.

​Prosseguindo a linha do tempo na ordem dos fatos relatados, ao trabalhar diuturnamente na lavoura, o Sr. Hidehito e o Sr. Misseo tiveram contato com vários produtos para o combate às pragas. Se, nos dias atuais, há muita preocupação e divulgação sobre o manuseio correto de agrotóxicos, infelizmente o mesmo não se pode dizer na década de 1950. Por esse motivo, a falta de orientação ocasionou consequências na saúde de muitas pessoas, que sofreram ao manterem contato direto com insumos extremamente nocivos para os humanos.

​Depois de tantos anos de trabalho e luta para oferecer uma vida melhor para sua família, temos certeza de que o Sr. Misseo Otsuki pode enfim, descansar na terra que o acolheu e na qual se esforçou tanto para produzir bons frutos. Ele deixou sua esposa, a Sra. Kazuko e os filhos, Sra. Tomoko, Sra. Mitiko, Sr. Izur, Sr. Hidehito e Sra. Junko.

​O responsável pelas aulas era o Sr. Nozomu Abé, um dos grandes precursores e também um dos responsáveis por popularizar o Judô em Votuporanga e todo o estado de São Paulo. Após o seu falecimento, o Sr. Hidehito assumiu a responsabilidade de continuar os ensinamentos do esporte na Academia de Judô Cerejeira, como o novo sensei.

​Durante anos o aprendizado era realizado na própria fazenda, porém, com o crescente interesse da população pelo esporte, o sonho de manter viva a tradição e os ensinamentos da cultura oriental, as aulas foram transferidas para uma sede exclusiva, localizada na rua Tietê. Por mais de 50 anos, Sr. Hidehito, juntamente com outros professores, difundiram o esporte, levando o nome de Votuporanga para todo o Brasil.

​Esta história foi extraída do livro "Votuporanga e seus personagens - Um Olhar diferenciado dos filhos das brisas", de autoria de Ravel Gimenes.


quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Votuporanga e a História da Ferrovia em Destaque na Rádio Jovem Pan

 Em celebração à semana de aniversário de 88 anos de fundação de Votuporanga, estivemos na Rádio Jovem Pan News Noroeste Paulista para participar de uma entrevista especial.

A pauta abordou a História da Ferrovia na região e o lançamento do documentário "Estrada de Ferro: Votuporanga na Linha do Desenvolvimento no Noroeste Paulista". Foi uma oportunidade valiosa para discorrer sobre a importância da cidade e seu desenvolvimento histórico, em um momento tão significativo.

Agradecemos imensamente aos jornalistas Jociano Garofolo e Rose Buzo pelo convite e pela atenção dedicada ao tema.

sábado, 1 de novembro de 2025

Do café ao desenvolvimento urbano: "Memória Cast" explora o impacto das ferrovias no Noroeste Paulista

O podcast "Memória Cast", uma iniciativa da Fundação Pró-Memória de São Carlos, recebeu em seu último episódio o historiador e pesquisador Ravel Gimenes para uma conversa aprofundada sobre o papel fundamental das estradas de ferro no desenvolvimento da região Noroeste Paulista. Na entrevista conduzida por Leila Massarão, Gimenes, que produziu o documentário "Estrada de ferro Votuporanga na linha do desenvolvimento", detalhou como a chegada dos trilhos transformou uma área até então considerada "despovoada" em um polo de crescimento.

A Formação da "Boca de Sertão"

Gimenes explicou que o Noroeste Paulista teve um desenvolvimento tardio em comparação com outras regiões cafeeiras do estado. A expansão foi impulsionada por colonos da capital e de estados como Minas Gerais, que buscavam novas terras para o café.

Um ponto central da discussão foi o papel da Estrada de Ferro Araraquara (EFA). O pesquisador usou São José do Rio Preto como exemplo, explicando que, após a chegada dos trilhos em 1912, a linha férrea permaneceu estagnada na cidade por mais de 20 anos, transformando-a em uma "boca de sertão". Este hiato, curiosamente, fomentou a economia local, já que viajantes precisavam de hospedagem e serviços enquanto aguardavam para seguir viagem.

Votuporanga: Uma Cidade Nascida dos Trilhos e do Café

A fundação de Votuporanga, em 1937, está diretamente ligada a essa expansão. Gimenes detalhou que as terras pertenciam originalmente ao "Rei do Café", Francisco Schmidt. Após sua morte, a propriedade foi adquirida e loteada pela "Empresa Paulista de Retalhar Terras", dando origem ao município.

O impacto da ferrovia foi tão imediato que, segundo o historiador, um plano diretor da cidade de 1952 previa a mudança da prefeitura e da câmara municipal para perto da estação, embora o crescimento urbano posterior tenha se voltado mais para as rodovias. Além do café, a região também se destacou na produção de algodão, pecuária e, mais recentemente, tornou-se um importante polo moveleiro, como lembrado por um ouvinte.

Preservação, Nostalgia e o Fim dos Trens de Passageiros

Embora o transporte de passageiros na linha tenha sido encerrado em março de 2001, a ferrovia ainda opera com transporte de cargas, hoje sob concessão da Rumo. A entrevista destacou a forte nostalgia que os trens ainda evocam. "A ferrovia é um tema nostálgico", afirmou Gimenes.

O pesquisador também abordou a situação do patrimônio ferroviário. Enquanto algumas estações, como a de Santa Fé do Sul (Museu Ferroviário) e Fernandópolis (Museu de Paleontologia), foram revitalizadas, muitas outras em cidades menores estão deterioradas. Em Votuporanga, o prédio da estação foi restaurado pela Rumo e serve como escritório da empresa.

Para os interessados em aprofundar-se no tema, Ravel Gimenes indicou seu documentário "Estrada de ferro Votuporanga na linha do desenvolvimento", financiado pela Lei Paulo Gustavo, que está disponível gratuitamente no YouTube.

A entrevista também serviu como prelúdio para a nova exposição da Fundação Pró-Memória, "Espaços Dormentes", que será inaugurada na estação ferroviária de São Carlos e aborda o patrimônio da Estrada de Ferro Araraquarense.

Convite Programa Memória Cast Outubro de 2025 com Ravel Gimenes - Fundação Pró-Memória de São Carlos

Convite: Programa "Memória Cast" Outubro de 2025 com Ravel Gimenes 

A Fundação Pró-Memória de São Carlos tem o prazer de convidar você a assistir a uma edição especial do programa "Memória Cast", que foi ao ar em outubro de 2025. 

Neste episódio, recebemos o pesquisador, fotógrafo e historiador Ravel Gimenes para uma conversa aprofundada sobre o tema "Estradas de ferro e o desenvolvimento do noroeste paulista".

Esta é uma oportunidade para mergulhar na história da constituição dessa importante região do estado. Durante o programa, são abordados tópicos como:

A Formação do Território: Uma análise de como o noroeste paulista se formou, contrastando o "Oeste Velho" e o "Oeste Novo" com esta região de colonização mais recente.

História Comparada: A conversa explora as diferenças temporais entre as cidades, comparando a fundação de Votuporanga (com 88 anos na época da gravação) com a história mais antiga de São Carlos.

O Papel da Ferrovia: O episódio detalha o papel crucial das estradas de ferro como vetor de progresso, discutindo as "brigas" e os esforços para a implantação das linhas que definiram o desenvolvimento local.

Pesquisa e Conexões: Ravel Gimenes também compartilha impressões de sua recente visita a São Carlos, realizada para aprofundar suas pesquisas sobre a história da cidade e suas conexões com o noroeste.

Se você é um entusiasta da história paulista, das ferrovias ou do desenvolvimento regional, este episódio é imperdível.