quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Família Otsuki: do Japão para Votuporanga

​Assim como inúmeras famílias de imigrantes que saíram do aconchego de seus lares para tentar a sorte em terras longínquas, com a família Otsuki não foi diferente.
​Contextualizando o fato, enquanto o Japão estava saindo de uma fase que culminou em décadas de isolamento, o Brasil finalmente decretara o fim da escravidão e a mão de obra nas lavouras de café tornou-se, portanto, mais do que necessária. Com o "Tratado da Amizade, Comércio e Navegação", assinado no dia cinco de novembro de 1895, em Paris, o Brasil abriu as fronteiras para a imigração japonesa, possibilitando uma grande oportunidade de trabalho aos seus cidadãos.

Dessa maneira, no ano de 1928, o Sr. Misseo Otsuki, com 25 anos de idade, e a Sra. Kazuko Otsuki, então com 24 anos, saíam do porto de Kobe, na região de Osaka, com destino às terras brasileiras. Chegando ao país, o casal se estabeleceu primeiramente na região de Colina em uma das propriedades do Cel. Francisco Maximiano Junqueira. Eles vieram com o primogênito, com um ano de idade, mas infelizmente esse faleceu bem novo, e posteriormente, seguiram para a cidade de Jaborandi, localizada a 200 quilômetros de distância de Votuporanga. Ao chegarem ao país tropical, tal como todos os imigrantes, tiveram que superar várias dificuldades.

​No início de 1940, juntamente com outras famílias de agricultores orientais, resolveram adquirir terras, com as economias advindas do trabalho na fazenda. A escolha por Votuporanga pode ter um motivo curioso: o nome da cidade. Alguns relatos apontam que, nos primeiros anos da fundação do município votuporanguense, vários caminhoneiros e motoristas passavam por essas "bandas" e se encantavam com o nome diferenciado – o que auxiliou a difundir o local em terras longínquas no nosso Brasil.

​Chegando por aqui, os Otsuki e mais cinco famílias (Sawamura, Hassegawa, Matsumoto, Nagatoki e Kawamura) se estabeleceram próximo aonde se encontra hoje o Aeroporto Municipal de Votuporanga. A princípio, realizaram todas as atividades de infraestrutura, como a derrubada de árvores para a construção das residências, preparação do terreno para a futura lavoura e outras melhorias necessárias. Perto do córrego ali existente, ao fundo da propriedade, já existia uma pequena olaria para a fabricação de tijolos – essa mesma foi utilizada para a construção das primeiras casas.

Com a madeira advinda da derrubada das árvores, construíram os galpões para a estocagem da produção, salvaguarda das ferramentas e equipamentos utilizados na "lida da roça".

​Após as realizações das tarefas elencadas acima, iniciou-se o trabalho na lavoura. Assim, com a união e trabalho de toda a comunidade japonesa, o grupo se fortaleceu a tal ponto, que produzia praticamente todos os alimentos que consumiam, constituindo uma sociedade quase autônoma. Concomitantemente a plantação de arroz, milho, feijão, café e posteriormente algodão, Sr. Hidehito destaca os esforços em manter as tradições e costumes de seu povo: falar uns com os outros na língua japonesa dentro de casa e respeitar a hierarquia familiar. Nesse último caso, nosso entrevistado afirma que até hoje mantém esse hábito e não compra uma galinha sequer, sem antes consultar o irmão primogênito, o Sr. Izur.

​Prosseguindo a linha do tempo na ordem dos fatos relatados, ao trabalhar diuturnamente na lavoura, o Sr. Hidehito e o Sr. Misseo tiveram contato com vários produtos para o combate às pragas. Se, nos dias atuais, há muita preocupação e divulgação sobre o manuseio correto de agrotóxicos, infelizmente o mesmo não se pode dizer na década de 1950. Por esse motivo, a falta de orientação ocasionou consequências na saúde de muitas pessoas, que sofreram ao manterem contato direto com insumos extremamente nocivos para os humanos.

​Depois de tantos anos de trabalho e luta para oferecer uma vida melhor para sua família, temos certeza de que o Sr. Misseo Otsuki pode enfim, descansar na terra que o acolheu e na qual se esforçou tanto para produzir bons frutos. Ele deixou sua esposa, a Sra. Kazuko e os filhos, Sra. Tomoko, Sra. Mitiko, Sr. Izur, Sr. Hidehito e Sra. Junko.

​O responsável pelas aulas era o Sr. Nozomu Abé, um dos grandes precursores e também um dos responsáveis por popularizar o Judô em Votuporanga e todo o estado de São Paulo. Após o seu falecimento, o Sr. Hidehito assumiu a responsabilidade de continuar os ensinamentos do esporte na Academia de Judô Cerejeira, como o novo sensei.

​Durante anos o aprendizado era realizado na própria fazenda, porém, com o crescente interesse da população pelo esporte, o sonho de manter viva a tradição e os ensinamentos da cultura oriental, as aulas foram transferidas para uma sede exclusiva, localizada na rua Tietê. Por mais de 50 anos, Sr. Hidehito, juntamente com outros professores, difundiram o esporte, levando o nome de Votuporanga para todo o Brasil.

​Esta história foi extraída do livro "Votuporanga e seus personagens - Um Olhar diferenciado dos filhos das brisas", de autoria de Ravel Gimenes.


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